Confira uma versão da história da Ocupação Contestado, pela professora Carmen Tornquist (a querida Susi, da Udesc) em parceria com o jornalista Marcio Papa.
Arquivo mensais:março 2013
E você, suportaria quanto? Sobre a reunião com a prefeita de S. José
Vale lembrar que iniciada a partir de um crime eleitoral cometido pelo ex-prefeito Djalma Berger, no dia 7 de março a Ocupação Contestado completou 4 meses de ocupação no bairro Serraria em São José.
O que dizer sobre o acontecimento do dia 13? Como psicóloga vi um fenômeno que não é só privilégio desse município em pauta, mas sim de todo Brasil; resolvi caracterizá-lo como um transtorno psíquico o qual chamei de “medo do povo”. Isso pode explicar o fato de 7 coordenadores do Contestado e 2 representantes das Brigadas Populares (organização política que apoia a articulação das famílias) terem sido recepcionados pela guarda municipal.
Estiveram presentes no evento, além dos citados acima e a prefeita, o promotor de Justiça de São José, Jadel Silva Junior, as advogadas da rede de apoio à ocupação, Daniela Felix e Luzia Cabreira. Representantes da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), da Defensoria Pública da União (DPU), da Caixa Econômica Federal (CEF), das Secretarias da Educação, Assistência e Saúde.
Propostas e encaminhamentos da reunião
-São José está há 8 anos sem projetos de habitação popular e a proposta do mandato de Adeliana é construir ao longo dos 4 anos 2.000 novas moradias.
-No dia 10 de abril às 14 horas será apresentado uma proposta de projeto habitacional para as famílias, bem como o levantamento da áreas disponíveis para a locação do mesmo.
-O terreno onde se encontra a Ocupação pertence a Imobiliária Suvec, a prefeita afirmou que irá negociar com a mesma com a intenção de impedir que as famílias sejam despejadas até que as habitações populares estejam concluídas. O resultado de tal procedimento será revelado também no dia 10 de abril.
– Para as questões de assistência, saúde e educação da comunidade serão feitos cadastros das famílias, os quais garantirão, entre outros benefícios, um comprovante de residência .
As propostas e prazos estão selados, porém não existe garantia que os mesmos serão concretizados. Tomando isso como realidade e me referindo à fala do promotor Jadel na reunião, a conclusão óbvia é que o tempo é a questão fundamental. Como unir o tempo da prefeitura e das famílias? Por quanto tempo essas pessoas podem esperar pela tão sonhada casa própria? Por quanto tempo elas podem viver sob a ameaça constante de despejo? Por quanto tempo você leitor suportaria se estivesse no lugar delas?
Fotos: Lívia Monte.
Ocupação Contestado faz ato na prefeitura de São José e marca reunião com prefeita
Por Camila Rodrigues da Silva
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Moradores da Ocupação entram na prefeitura. Foto: Diogo G. Andrade |
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Secretário de comunicação, Guarany Pacheco (ao centro), conversa com os moradores. Foto: Diogo G. Andrade |
O secretário de comunicação da prefeitura, Guarany Pacheco, tentou restringir a entrada dos moradores e apoiadores, com o argumento de que a manifestação atrapalharia o trabalho dos gabinetes. Após conversa com a coordenação, permitiu a entrada de todos desde que fizessem silêncio.
A manifestação foi pacífica e organizada. Após alguns minutos dentro da prefeitura, Adeliana aceitou receber quatro integrantes da coordenação da ocupação e a advogada, Daniela Félix. A conversa durou cerca de 20 minutos e ficou acordado que a reunião acontecerá no dia 13/03.
Ao sair, todos os participantes do ato tiveram uma surpresa ao olhar pelas janelas envidraçadas da prefeitura: pelo menos cinco viaturas da Polícia Militar, que não estavam no começo do ato, foram chamadas para “reforço da segurança”. Fica claro que a atual prefeita e seus secretários também encaram o movimento popular como “caso de policia”.
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Viaturas da Polícia Militar chegaram para reforçar a segurança contra cidadãos. Foto: Diogo G. Andrade |
Para que a reunião?
Há dois problemas que podem ser evitados a partir de uma conversa com a prefeita. O primeiro deles parte do fato de que a prefeitura de São José avalia a Ocupação Contestado como um problema herdado da gestão anterior, comandada por Djalma Berger (ver aqui a história do crime eleitoral que culminou na ocupação).
Diante disso, Adeliana se mostrou disposta a resolver a situação –mas não explicitou de que forma. Assim, um dos objetivos da reunião com as famílias é permitir que elas estejam inseridas, de forma ativa e protagonista, nas negociações que envolvem seus próprios futuros. O que se quer evitar é que a solução para esse problema seja encontrada e desenvolvida ignorando a participação e a organização popular, aplicando medidas “de cima para baixo”.
O segundo problema é que a ação que foi aberta pela Imobiliária Suvec no final do ano passado segue em processo e o perigo de despejo continua iminente. Por isso, é urgente criar mecanismos institucionais que protejam a comunidade de tal risco.