Audiência Pública – 19/11

 

A Audiência Pública que aconteceu nesta segunda-feira (19) foi muito animada e proveitosa. Um ônibus com cerca de 80 moradores partiu da Ocupação Contestado, em São José, até a Assembleia Legislativa, em Florianópolis. No caminho, a comunidade entoavam palavras de ordem e cânticos de luta, ansiosos pelo que viria. O poder público se comprometeu com alimentação, segurança das famílias e recolhimento do lixo, e os encaminhamentos da Assembleia foram numerosos e animadores, como foi publicado aqui no site.

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Estudantes visitam a Ocupação e realizam entrevistas

Alunos da turma 34 do Ensino Médio da Escola Cecília Rosa Lopes, de Forquilhinhas, fizeram um vídeo sobre a Ocupação Contestado, com duas entrevistas importantes. Eles entrevistaram Mayra, uma das moradoras da ocupação, que contou com detalhes os problemas com doenças e a falta de privacidade durante o período em que os sem-teto ficaram no ginásio do Jardim Zanelatto; e Marcio, do Coletivo Anarquista Bandeira Negra, que explicou como o atual prefeito de São José, Djalma Berger, agiu irresponsavelmente com aquelas pessoas.

 

 

José Nitro, o Nordeste e a criminalização dos pobres

Como relacionar Nordeste, criminalização da pobreza e as famílias desapropriadas do bairro José Nitro e entorno?

Muito simples, você só precisa de uma observadora paraense escondida por feições acidentalmente europeias e pele desbotada.  Eu diria que essa condição me deu o privilégio de rir das pessoas confusas que já tentaram arrancar de mim, inutilmente, uma concordância  com o fato de como os nordestinos, nortistas e outros acabaram com o maravilhoso estado de Santa Catarina.

Mas eis o que eu vejo; no início de outubro Djalma Berger, natural de Bom Retiro/SC, cometeu na condição de candidato à reeleição da prefeitura de São José um verdadeiro estelionato eleitoral. O mesmo prometeu à cerca de 200 famílias um terreno próximo ao bairro de Serraria e até assinou um decreto simbólico.  Após ocupação do terreno e a derrota do candidato nas eleições à população foi desapropriada de modo covarde com intermédio de uma enorme força policial. Às famílias  não foi dada a chance de negociação ou locação em outro terreno e até hoje Berger não se pronunciou sobre o assunto nem para mídia, para sociedade ou para as pessoas enganadas pela falsa promessa.

Bom uma situação como essa não é lá muito diferente de certas regiões do norte e o nordeste em que os famosos coronéis até os dias de hoje  fazem a leis. Djalma prometeu o terreno assinou um decreto e pelo não cumprimento o mesmo não foi punido ou responsabilizado pelo Estado.

O destino de algumas famílias foi o ginásio de esportes Jardim Zanelatto e depois por iniciativa própria ocuparam um terreno nas imediações e se autodenominam ocupação do Contestado. O terreno é pequeno para o número famílias, em torno de 150, mas ainda assim aos poucos os barracos têm sido erguidos, a água e a luz improvisadas.

Essas pessoas têm sido constantemente  ameaçadas, com uma nova desapropriação, ou pelo conselho tutelar porque existem crianças na localidade. Fico me perguntando por que o conselho tutelar ao invés de culpar os pais das crianças, não cobram de Berger a responsabilidade por ter colocado crianças naquela situação.

Mas enfim, o nosso país tem sido assolado por uma lógica mercadológica e pela concepção errônea de que o mercado é a solução para tudo, o que torna muito fácil culpar o indivíduo pela sua condição vulnerável. “Não tem casa é porque não trabalha o suficiente para conseguir uma”.

Só é esquecido que não existe trabalho para todo mundo e é preciso que alguns trabalhos paguem misérias para que outras pessoas tenham disponíveis 1 milhão de reais para comprar um empreendimento VVOA. Dessa forma, culpar os pobres pela sua condição de pobreza se torna muito mais fácil do que enxergar que o problema é social,  justificando assim dar as costas para os projetos de habitação popular. Ocupar os terrenos que restam com loteamentos chiques para vender aos ricos a ilusão de maior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil.

Felizmente, na segunda-feira, dia 19, alguma visibilidade foi dada às corajosas famílias desapropriadas  através de uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

As conquistas na audiência de acordo com informações das Brigadas Populares, organização política que têm dado suporte à luta das famílias está disponível no site: http://brigadaspopularessc.blogspot.com.br/2012/11/conquistas-da-audiencia-publica-de-hoje.html

Resta agora cobrar que o que foi conquistado seja cumprido para não termos “dejà vu” de terras sem leis  que em minha opinião não se restringem só as mais próximas ao equador.

Quanto a mim vou terminar o texto com um versinho preparado pelas famílias, destinado ao covarde  Djalma Berger.

“Enquanto Djalma mora numa casa linda e bela,

o pobre não tem  lote e nem terreno na favela.

Eu não aguento mais tanta imprudência,

Djalma se esperta e me dá logo a residência.”

Por Lívia Monte. 

Fotos: Brigadas Populares.

Ocupação Contestado vira tema de reportagem para rádio

A reportagem de radiojornalismo produzida durante a primeira semana da Ocupação Contestado conta a trajetória das famílias do despejo à ocupação, da frustração aos desafios atuais. Os protagonistas são os narradores da história da nova comunidade. A reportagem ainda traz entrevistas com Elson Pereira, professor de Planejamento Urbano do curso de Geografia da UFSC e Jonathan Jaumont, das Brigadas Populares.

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Reportagem especial Ocupação Contestado by Mariana Pitasse

Por: Mariana Pitasse e Julia Rohden

Domingo de paz e construção na Ocupação Contestado

E o Contestado renasce…

Texto e fotos: Marcela Cornelli.

Registro neste domingo, dia 18 de novembro, da Ocupação Contestado em São José, onde as casinhas de madeiras começam a ser erguidas.

Na madrugada do dia 7 de novembro, após 28 dias alojadas no ginásio de esportes, cansadas do descaso e abandono do poder público, as famílias da comunidade José Nitro ocuparam um novo terreno na Rua Eduardo Manoel da Rosa, em São José. A área fica no Loteamento Araucária, há algumas quadras do ginásio. Ali chamaram de Ocupação do Contestado e com apoio de movimentos como as Brigadas Populares – Frente da Reforma Urbana – do Movimento dos Sem terra (MST) e do coletivo anarquista Bandeira Negra, além de outros ativistas de movimentos sociais, eles plantaram novamente seus sonhos. Esta ocupação é um dos exemplos da luta por moradia em Florianópolis que está só começando a se reorganizar. Muitas comunidades como a Chico Mendes no Continente, Vila do Arvoredo no norte da Ilha, Panaia, no Sul, entre outras são ocupações que há anos resistem à fome voraz do capital imobiliário na Grande Florianópolis. A luta por moradia digna deve ser de todos nós! Há que se construir uma outra cidade possível e urgente.

Fonte: desacato.info

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Parlamento discute situação de famílias acampadas em área na Grande Florianópolis

A audiência pública convocada para debater a situação das cerca de 150 famílias que ocupam uma área no bairro Jardim Zanelatto, no município de São José, Grande Florianópolis, terminou com a decisão da busca por apoio emergencial enquanto não for assegurada uma área viável para o assentamento definitivo das mesmas. Nos próximos dias será homologado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público visando assegurar apoio material e assistência jurídica ao grupo.
O debate aconteceu no Palácio Barriga Verde pública na manhã desta segunda-feira (19) e contou com a participação de representantes do governo do Estado, Ministério Público e de movimentos sociais.
O deputado Padre Pedro Baldissera (PT), um dos proponentes da audiência, em conjunto com os deputados Sargento Amauri Soares (PDT), e Angela Albino (PCdoB), destacou a necessidade de assistência imediata às famílias, que se encontram em situação precária, sem receber nenhum tipo de apoio por parte do poder público. “São pessoas carentes que precisam de amparo que lhes restitua a dignidade e o bem-estar social, mas, antes de mais nada, de garantia alimentar”, disse.

Motivação política
Amauri Soares chamou ressaltou que o problema da construção de moradias para a população de baixa renda é comum a todo o estado, que não possui políticas públicas de habitação voltada a este segmento da população. O problema, disse o parlamentar, agravou-se em São José no período anterior às últimas eleições municipais, em que um dos candidatos à prefeitura prometeu desapropriar uma área para a construção de novas moradias, em troca de votos. “Essas pessoas foram vítimas de um verdadeiro estelionato eleitoral promovido pelo atual prefeito Djalma Berger, que chegou a simular a assinatura de um decreto de desapropriação”.
Com a promessa, explicou Soares, as famílias ocuparam o terreno, pertencente a uma imobiliária, construindo barracos no local. Ainda em outubro, por ordem da prefeitura o grupo foi removido para um ginásio de esportes. No dia 07 deste mês, após aguardarem por 28 dias no alojamento provisório, as famílias ocuparam um terreno localizado nas proximidades do ginásio.
A nova invasão, afirmou a representante das famílias, Maria Damasceno Teixeira, foi motivada pela falta de condições no ginásio, que não contava com água ou banheiros suficientes. “Jogaram nossas famílias num ginásio, sem as mínimas condições para alojar pessoas. Por isso fomos para esta nova área, onde estamos melhor”, disse.
O promotor de Justiça do Ministério Público, Jadel da Silva Júnior, que qualificou a situação como fraude eleitoral, afirmou que foram instaurados dois inquéritos civis, visando obter a inelegibilidade por oito anos e a responsabilização financeira de Djalmar Berger. “Temos que ver estas famílias como vítimas de um modelo de fazer política e de ver as cidades”, disse.

Falta de políticas habitacionais
O representante da Secretaria de Assistência Social, Trabalho e Habitação, Marcondes Marchetti, reconheceu que o estado, bem como os municípios, é deficiente em termos construção de moradias para famílias de baixa renda.  Ele afirmou que atualmente a secretaria pode prestar apoio somente em aspectos como regularização fundiária e na disponibilização de cursos profissionalizantes aos assentados.
Presente ao debate, a articuladora no estado da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (Renap), Daniela Félix, mostrou-se crítica em relação às políticas de inclusão social em Santa Catarina. “Estamos esquecendo constantemente estas populações, que não devem ser marginalizadas em seu direito à moradia e a uma vida digna”, disse.

Fonte: ALESC.